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Nossa Atuação

A grande onda

Por Alessander Lopes Pinto

Desde que o setor marítimo mundial começou a discutir, já há alguns anos, a plausibilidade de navios autônomos para o transporte de mercadorias pela via aquaviária, uma transformação disruptiva agita as atividades marítimas e portuárias em nível global. Não estamos muito distantes do tempo em que navios e portos poderão ser operados sem o elemento humano. A autonomia, agora, está no centro da arena da competição.

O mundo marítimo entendeu rapidamente como as aplicações de inovações tecnológicas e inteligência artificial poderiam acelerar a autogestão da navegação e dos portos a partir do monitoramento de integridade de equipamentos e automação de sistemas mecânicos e elétricos, redução da necessidade de interferência humana e aumento da eficiência das operações. 

De olho no futuro, empresas passaram a investir enormes recursos no desenvolvimento de inovações tecnológicas e estimularam o uso de conceitos de inteligência artificial em sistemas a bordo de navios, entre eles, sensores de radar, câmeras e orientação por satélite, assim como sistemas de segurança.

Projetos antes imagináveis ​​apenas na ficção, já se tornaram realidade. O navio Yara Bierkeland, conhecido para além da indústria marítima por combinar tecnologia e eficiência energética, foi pioneiro entre os projetos de navios autônomos, ainda que não tenha excluído completamente a presença de uma equipe humana a bordo. Desenvolvido pela empresa norueguesa Yara International, fez sua viagem inaugural em novembro de 2021. 

Em seguida, foi a vez do Mikage, da empresa japonesa Mitsui Lines, cruzar os mares. Primeiro navio totalmente autônomo a atracar sozinho, fez uso de drones, ao final da viagem, para soltar os cabos para os trabalhadores portuários. A transformação apenas começou. O Japão já tem seu segundo navio automático, batizado Suzaku. A embarcação fez a primeira viagem teste em fevereiro de 2022.

O Brasil tem acompanhado a grande onda com a devida atenção e, desde 2020, conta com uma plataforma tecnológica –  Cluster Brasileiro de Inteligência Artificial para Navios – para o desenvolvimento de inteligência artificial para o setor marítimo. A iniciativa reúne representantes do governo, academia, empresas marítimas e líderes industriais e busca promover projetos e soluções tecnológicas, atrair investimentos, reunir centros de pesquisa que já atuam na área e apontar para o mercado nacional e internacional as novas apostas brasileiras para o transporte marítimo e para as atividades portuárias.

Vale destacar que nas principais cidades portuárias brasileiras foram implementados centros de inovação tecnológica, com destaque para a informatização e digitalização dos procedimentos portuários relacionados à chegada de navios, seus carregamentos, descarregamento e desembaraço pelas diversas autoridades competentes. Não menos importante, o programa brasileiro Porto Sem Papel, em vigor há quase dez anos, trouxe eficiência às operações portuárias, reduzindo a burocracia e criando mais agilidade e economia para as operações. 

Note-se, contudo, que há pontos sensíveis a serem considerados no atual momento desta transformação. Observe-se que a eficiência esperada para o transporte marítimo somente será atingida com a integração de toda a cadeia logística envolvida na movimentação de mercadorias, desde a coleta nas fábricas, armazenamento, expedição, transporte, descarga e entrega ao seu destinatário final.

Neste sentido, o conflito entre a Ucrânia e a Rússia acende uma luz vermelha para a mudança pretendida. Além de toda a tragédia humanitária e consequente escalada da miséria e do atraso em nível global, a integridade dos portos, navios e infraestrutura de comunicações, não restrito aos países envolvidos no conflito armado, é um risco real. Não se pode ignorar, igualmente, os impactos sofridos a partir dos ataques cibernéticos, intensificados durante a guerra. Identificar e evitar ameaças às operações das redes de comunicação, incluindo o setor marítimo e portuário, têm exigido maior atenção dos centros de desenvolvimento de segurança cibernética.

A indústria e a comunidade marítima internacional devem estar preparadas para enfrentar com a eficácia necessária qualquer ataque e proteger a continuidade e segurança de portos e navios. Para tanto, nos próximos tempos, deve-se empenhar esforços a fundo na concretização de duas tarefas que hoje parecem inconciliáveis: a primeira, buscar uma solução para o fim da guerra e para a sua devastação; a segunda, intimamente associada à primeira, avançar na agenda empreendedora de uma navegação moderna, eficiente, inteligente e tecnológica.

Os mecanismos de Compliance como Ferramenta de Gestão das Empresas

Por Mauricio Bove  

O verdadeiro conceito de Compliance ainda não está totalmente difundido no Brasil. Por consequência, boa parte das empresas brasileiras têm dificuldade em enxergar o Compliance como uma solução provável para os seus problemas de gestão dos negócios, limitando-se, quando muito, a cumprir com as obrigações legais básicas.

Neste contexto, a inovação em gestão, por meio de mecanismos de Compliance, dificilmente acontece de forma preventiva, mas sim em razão de alguma circunstância interna ou externa, tais como a tentativa de atenuação de penas, recuperação da imagem e reputação ou a necessidade de captação de recursos. 

Ressalte-se que o Compliance, além de ser o conjunto de medidas adotadas por uma organização para promover a conduta ética e o cumprimento com leis e regulamentos, é também uma importante ferramenta de gestão. 

É preciso ter claro que a efetividade de um programa de Compliance de uma empresa deve ser medida por meio da análise de três mecanismos essenciais para minimizar e gerir riscos: prevenção, detecção e resposta. Trata-se de frentes de ação que permitem mapear os processos organizacionais das empresas, de forma a identificar fragilidades que possibilitem a ocorrência de atos de corrupção, fraude, uso de dados pessoais, lavagem de dinheiro, conflitos de interesse, relação com concorrentes, entre outros. 

Diferentemente do entendimento usual, o Compliance não assume apenas um papel punitivo e burocrático, mas tem função essencialmente preventiva, criando políticas e procedimentos para disseminar uma cultura ética, além de treinamentos e ações de comunicação para que a preservação da integridade, tanto na empresa quanto dos colaboradores e terceiros envolvidos, torne-se o princípio norteador da atividade empresarial. Seus mecanismos têm função decisiva na prevenção de riscos em geral, como de infrações legais e reputacionais e na contratação de colaboradores e terceiros. 

Neste sentido, vale jogar luz sobre os mecanismos de integridade da Petrobras, e, em especial, no recente episódio das tentativas de sucessão para o cargo de presidente do Conselho de Administração e para a presidência da companhia. 

Ao que tudo indica, os relatórios da Diretoria de Governança e Conformidade (Diretoria de Compliance) da Petrobras sobre o histórico dos executivos cotados para dirigir o Conselho de Administração e para a presidência da companhia, apontaram que ambos teriam dificuldades em passar pelos critérios do comitê 

interno que iria avaliar se eles teriam ou não condições de ocupar os postos para os quais foram indicados. 

Os mecanismos de Compliance, inclusive o Background check, que analisa a vida pregressa de candidatos, servem, assim, como um “muro” de proteção às empresas. Eles reforçam a gestão das organizações, a preservação da integridade, a valorização empresarial, o aumento na eficiência, a vantagem competitiva e o ganho na produtividade. 

Evidenciado pelo exemplo da Petrobras, as organizações devem implementar mecanismos preventivos que minimizem suas vulnerabilidades e, ao mesmo tempo, reforcem o combate à corrupção e às irregularidades. Baseado em diretrizes internacionais e na regulamentação da Lei Anticorrupção brasileira, é possível construir um “muro de proteção” para prevenir, detectar e remediar a prática de desvios. 

Tão importante quanto a “blindagem” das empresas, os procedimentos de conformidade ajudam a fomentar uma cultura de integridade, estimulando comportamentos éticos na conduta diária das pessoas. Ainda que seja obrigatório estar em conformidade com as leis e regulamentações, os valores éticos devem ser vivenciados nas pequenas ações do dia a dia. 

Vimos assessorando diferentes empresas, de tipos e tamanhos variados, e percebe-se, em boa parte delas, uma dificuldade inicial em enxergar o conceito de Compliance como gestão de negócios. Incluí-lo, não somente na matriz de riscos de corrupção, mas nas estratégias do negócio, considerando diferentes aspectos que envolvem a tomada de decisão, é fundamental para a sobrevivência das organizações. 

É compreensível, especialmente no caso brasileiro – generoso na produção de crises econômicas e políticas -, que grande parte dos empreendedores se preocupem mais com “o aqui e o agora” e com a sobrevivência no curto prazo. Contudo, embora pareça óbvio, para que as empresas consigam crescer e lucrar, precisam continuar existindo, e poucos têm essa questão tão clara quanto se faz necessário. 

A prática de Compliance tornou-se obrigatória no manual de qualquer organização sustentável, pública ou privada. Para durarem e ampliarem seus negócios, as empresas precisam ser realmente inovadoras e sustentáveis em todos os aspectos nas suas decisões. É importante que entendam esse contexto o quanto antes e enquanto houver tempo.

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